Na quarta entrevista do Observatório de turismo do Recife, vamos receber Marcelo Bento, que tem uma larga experiência no setor de aviação. Marcelo é diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Aena Brasil, que é a gestora dos aeroportos do Recife, Maceió, João Pessoa, Aracaju, Juazeiro do Norte e Campina Grande, né? Só que antes de chegar na Aena Brasil, Marcelo teve sua trajetória por algumas empresas aéreas, como azul. Onde ocupou o cargo de diretor de relações institucionais e alianças. E a Gol também, né? Além disso, trabalhou em grandes agências de turismo e na Azul Viagens que, sob sua gestão, cresceu mais de 50 vezes, né? Tornando-se uma das principais operadoras de turismo nacional.
Manuella: Como a gente pode ver, você tem uma larga experiência no setor de aviação. Marcelo, eu gostaria que você contasse um pouco do que faz um diretor de relações institucionais.
Marcelo: Eu diria que a gente é a ponte, não é, Manuella? Assim, a gente tem que… É… verificar os desafios, não é?! Que a empresa tem na sua atuação. E fazer a ponte com quem pode nos ajudar a superar esses desafios, né?! Seja diferentes esferas de governo, seja os nossos pares, outros aeroportos, porque às vezes, justamente a união faz a força, né? É.. seja mesmo os nossos clientes. Então assim, dentro do meu cargo, eu também sou responsável por desenvolvimento de serviços aéreos, portanto, as companhias aéreas são minhas clientes. É, então assim, é basicamente tentar ser um resolvedor de desafios, vamos dizer assim, estabelecer as pontes e os relacionamentos são necessários para isso.
Manuella: Entre esses desafios, e as coisas que você mais gosta de fazer na sua função que você poderia citar alguns deles, tantos área do desafio como uma das coisas que você tem prazer, vamos assim dizer dentro do…
Marcelo: É, é sim, como eu, eu tenho esse DNA de companhia aérea, né? Eu fui diretor de planejamento da Azul por muito tempo. É.. essa parte desenvolvimento em vista é muito prazerosa. Não é assim discutir com uma empresa aérea, novos voos, novos destinos em potencial, fazer estudos de mercado para ajudar a companhia no processo decisório. Mesmo eu fazendo a interface, às vezes com… é…com o Estado e município, não é para para ajudarem nos esforços de convencimento de uma empresa. É, é a cereja do bolo, vamos dizer assim, né? Mas também assim, sempre que a gente consegue resolver um problema complexo com a união de várias forças, é muito prazeroso também é da sensação do dever cumprido, vamos dizer assim.
Manuella: E dentro dessas experiências vamos assim dizer, o que é que você destaca com relevante, né? Dentro, juntando dentro do que você faz na sua função, no seu cargo. E desses desafios que aparecem nesse processo, né?! O que você destacaria como algo relevante?
Marcelo: É eu, eu, eu. Às vezes é um defeito, mas eu gosto de pensar que a maior parte das vezes é uma qualidade, não é? É ser. Eu sou muito transparente. Eu acho que a função requer transparência, porque mesmo que no final você sempre esteja defendendo uma opinião, um interesse, né, ou seja, o que é o que é melhor para a empresa na qual eu trabalho. Normalmente a gente está defendendo uma posição que é melhor para todo mundo e é muito importante também a gente ser transparente. Porque nessa função, especificamente, você trabalha com credibilidade. Então, se você, se as pessoas não sentem que você tem verdade, não é, no que você está falando, você perde a credibilidade. Você só consegue falar uma vez, você não tem uma segunda chance. Então, transparência é muito importante e resiliência é tão importante quanto, porque “não” você ouve muitas vezes, mas o “não” muitas vezes significam um “talvez”, não é? Então você tem que ser resiliente, buscar novas formas às vezes. É de juntar as pessoas e de resolver os assuntos.
Manuella: E você, acredita que sua experiência, sua trajetória tem contribuído para você ter essa força maior nessa área de resiliência?
Marcelo: É importante, né? Importante, porque assim bem ou mal são quase 30 anos de mercado, não é? Então é… Eu já vivi muitas coisas diferentes, então essa experiência ajuda, ajuda bastante.
Manuella: Quando você começou, você se imaginaria estar ocupando o lugar que você ocupa?
Marcelo: Nunca. Nunca. Eu comecei. Eu comecei a minha carreira numa agência de viagem, não é como agente de viagem. Em companhia aérea especificamente, comecei no setor de reserva, né? Então é. Nunca pensei de chegar até aqui.
Manuella: Certo, falando um pouco da Aena Brasil, né? Qual é a importância hoje? Qual lugar que o Aeroporto do Recife ocupa dentro da empresa?
Marcelo: O aeroporto do Recife é de longe o mais importante, é o maior da nossa rede, que tem os maiores números, vamos dizer assim. É, além de ser, de fato, um Hub é entre os mais importantes do Brasil. É Recife, oscila entre o quinto ou sexto maior aeroporto do país, não é o único da região norte nordeste com esse volume de operações, é um dos mais conectados do Brasil. Recife tem 36 destinos conectados a ele. E a gente vê um grande potencial de se continuar crescendo e crescer cada vez mais, né? Por vários fatores, pelo desenvolvimento econômico de Pernambuco, pelo fato de Pernambuco está centralmente localizado na região nordeste, e ter se tornado um centro logístico importante para a região. É,então, a gente ainda vê um grande potencial pra frente.
Manuella: Então, visto essa essa importância que o aeroporto a culpa não é dentro da própria região nordeste, qual é a expectativa que ainda tem em relação a essa volta ao fluxo de voos dentro do aeroporto?
Marcelo: É do ponto de vista de voos domésticos, a gente já está é… Que vamos dizer assim, superando 2019. A gente está operando com cerca de 8% mais de assentos do que a gente tinha nos mesmos meses de 2019. Então, em termos de voos domésticos, o aeroporto de Recife, tal de vento em poupa, vamos dizer assim, óbvio que poderia estar melhor ainda não fosse o preço do combustível de aviação, que limita muito as companhias aéreas. A medida que a gente vamos, dizer assim, vai superando os efeitos do COVID a gente esperava uma recuperação mais rápida que ela está vindo para Recife, mais rápido do que em outros aeroportos do país. É, mas aí podia ser mais ainda não fosse os efeitos do preço, do combustível e do dólar que tem um peso muito grande nos custos das companhias aéreas. Em termos de voos internacionais, aí sim, a gente ainda está bem atrás, né? Tem um…Tem um grande trabalho ainda a ser feito aí na recuperação de você ter acionado. A gente tem dedicado muito esforço a isso. Mas é a tal história, não é? Os voos internacionais estão, estão ainda aquém no mundo inteiro, não é? Não é só no Brasil. E a gente acaba… As companhias aéreas fizeram um de uma maneira geral, né? Fizeram um esforço grande de renovação de frota no mundo para usar aeronaves mais eficientes do ponto de vista do consumo de combustível. E as fabricantes de aviões estão demorando a entregar, então várias companhias estão dizendo para a gente assim, “eu quero voltar para Recife, mas eu ainda não tenho avião”. E a gente acaba concorrendo com outros destinos internacionais, né? Então, a companhia precisa escolher se ela vai voar para um destino no Caribe ou no nordeste brasileiro. Algumas vezes o Caribe ganha, vamos dizer assim. Então é esse é o momento que a gente tá.
Manuella: Então hoje seria o principal entrave, né? Nessa retomada do…
Marcelo: Falta de aeronaves ainda, a dificuldade de deslocamento Internacional, porque as pessoas ainda têm muita insegurança quanto a eu preciso tomar, preciso ter certificado de vacina? É preciso fazer exame etc. Valor do dólar e do combustível mesmo para o turista, né? O valor do dólar alto, pernambucano ou para o nordestino ir para fora tá mais difícil, vamos dizer assim.
Manuella: OK, recentemente o aeroporto.. Ele recebeu dois certificados. O primeiro, “Aviação mais Brasil 2022” e o operacional da “Agência Nacional de Aviação Civil”, pela ANAC, né? Qual é o sentimento que ainda têm de receber essas 2 certificações?
Marcelo: É, em primeiro lugar você de cada operacional é muito importante para a nossa atividade, não é? É um. É um certificado que a Anac dá quando o aeroporto atende aos padrões internacionais de operação, né? Os padrões de call, como a gente chama que é a organização Internacional de aviação civil. É, então é muito importante para a gente poder ser certificado. A maioria dos aeroportos no Brasil são aeroportos antigos, e que foram construídos. É quando esse padrão não existia, né? Então, atingir esse padrão é um investimento. Né? É um esforço grande de adaptação. Que Recife, assim como outros aeroportos fizeram. Então obter isso é um feito para nós, não é? Não são todos os aeroportos que conseguem, têm às vezes tem restrições. É, e com relação ao prêmio, assim a gente ser considerado um dos melhores aeroportos do Brasil na nossa categoria é fantástico, não é? Principalmente pensando que era o povo de Recife teve um crescimento vertiginoso nos últimos anos, então a gente tem um desafio, né? Todo mundo fala, nossa, ela podia, se tá cheio, tá cheio mesmo, né? E a gente está em obras para tentar justamente tentar, não pra conseguir aumentar a capacidade e melhorar essa sensação, mas mesmo assim a gente obteve índices de qualidade muito alta. Isso é muito, é muito gratificante.
Manuella: Ótimo, Marcelo, finalizando já nossa entrevista. Eu queria que você contasse alguma situação inusitada. É do na sua função do seu dia a dia que aconteceu, e que foi inesquecível.
Marcelo: É tem…o curioso assim? Eu fiz muitos voos inaugurais para muitas cidades no Brasil e cidades muito pequenas, né? É, e nessas ocasiões, você representa a companhia aérea ali, né? E a gente… Eu fui recebido algumas vezes como se fosse o presidente do Brasil visitando uma localidade, e é muito curioso, né? Assim quando você vê, você é recebido pelo prefeito, tem, tem palanque, tem, tem festa, a banda tocando, porque para uma cidade que está isolada receber um voo regular, é realmente um divisor de águas, né? Na mobilidade das pessoas, na capacidade dos negócios se desenvolverem. Então, aí você entende a diferença que o transporte aéreo faz na vida das pessoas, mas é uma experiência pessoal muito, muito curiosa, né? Eu estou só aqui fazendo meu trabalho, mas você é recebido, como assim, não é? Se você tivesse é fazendo algo espetacular, que no fim é, mas né, não foi uma decisão minha sozinha, foi muito curioso.
Manuella: Qual dica alguma informação você daria para o estudante da área de turismo ou de qualquer outra área que tem interesse, né? Nessa área de comunicação, de relação institucional, o que você diria aí, né? Como trajetória mesmo profissional.
Marcelo: É sim. Ninguém estuda para ser um profissional de relações institucionais. Assim em relação às institucionais. Apesar de ter uma. É… Uma ciência, né? E como fazer isso? E tem os cursos de relações públicas, eles focam muito nisso. Mas eu…eu acredito que você precisa conhecer o seu negócio. Então, eu diria que para um estudante de turismo, especificamente, é que queira ou trabalhar nessa área, é importante que ele, que ele conheça o negócio que ele tá, que ele faça várias coisas dentro desse negócio antes de realmente almejar. É… Trabalhar mais nessa área, né? É, e eu diria também para o estado de turismo, que assim é… É muito importante entender que o turismo é negócio, turismo é um fenômeno social, sim. Mas a gente não, não vive do fenômeno social. A gente vive dos negócios que surgem em função disso. Então é importante que o estudante de turismo, mais do que qualquer outra coisa, entenda de negócios, estude negócios, economia, estude, administração. É que eles sejam gestores.
Manuella: Muito obrigada, Marcelo, pela entrevista e disponibilidade.
Marcelo: Muito obrigada!